quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

UM RELACIONAMENTO FAKE


 


Ninguém poderia me culpar por ter contado uma mentirinha que envolvia um certo candidato ao Senado. Ninguém.

Porque eu não sabia que ser adulto era como estar constantemente tentando dobrar lençóis de elástico. Não sabia que passaria anos na faculdade de Arquitetura, para, no final, não poder nem assinar meus próprios projetos. Não sabia que minha vida se tornaria tão monótona que até a do meu gato seria mais animada. Eu era a rainha do colégio, no ensino médio. Era a promessa de um futuro brilhante, com um salário de dar inveja e convites para as melhores festas aos finais de semana. Por isso, menti. Quando tive um daqueles reencontros da turma do colégio, anos após a formatura, não podia deixar que soubessem da verdade. Eu não daria o gosto para minhas ex-amigas de se sentirem superiores, só porque estenderam seus reinados para além da adolescência. Então inventei um noivo, um cara romântico que escreve poemas para mim, e usei um nome qualquer, que ninguém teria. Afinal, quem batizaria uma criança de Leonam Devine? Acontece que esse homem existe, está concorrendo ao Senado e precisa ter a reputação impecável. Ou seja: não pode me desmentir. Mas nada me preparou para lidar com sua arrogância e eu, definitivamente, não estava pronta para tudo o que sentiria com o nosso noivado falso. E nem lençóis de elástico eram um pé no saco maior do que ele.


Nenhum comentário:

Postar um comentário